Para começar, quero deixar muito claro que não tratarei neste texto do caráter político e muito necessário do filme. Não por falta da importância desse viés, mas por não me sentir capaz de uma análise profunda sob essa perspectiva. Essa marca triste da ditadura, deixarei para os entendidos.
Mas, há uma outra marca no filme Ainda estou aqui, a marca de um produto cultural enormemente bem sucedido. São muitos acertos que combinados levaram a esse nosso blockbuster nacional que arrebentou a bilheteria com mais de 5 milhões de espectadores. Afinal, onde a marca Ainda estou aqui acertou?
A marca do sucesso de fora para dentro. As expectativas no Brasil começaram a ser criadas pela repercussão mais do que positiva internacionalmente. No Festival de Veneza o filme foi ovacionado pelo público por ininterruptos 10 minutos e com Fernanda Torres sendo aclamada por sua atuação. Essa visibilidade e consagração no exterior não é novidade. Muitas marcas fazem esse mesmo movimento: são celebradas lá fora muito antes de renderem frutos aqui. A mágica vem justamente daí. Com sua recente indicação para 3 categorias do Oscar essa expressão mundial potencializa ainda mais esse efeito.
A marca de um filme de mulheres fortes. Não são poucos os produtos culturais, filmes e livros como exemplos, que trazem personagens e autoras fortes, poderosas e muito capazes. Esse ingrediente, que deveria ser natural e não extraordinário, move as atenções, causando ainda um efeito surpresa. No caso, Eunice Paiva e Fernanda Torres, sendo a última no papel da primeira, são mulheres para lá de fortes. Como mães, como profissionais, como mulheres e como pessoas, são ícones de uma grandeza incomensurável.
A marca com um líder sensível. Todo produto artístico pede sensibilidade e no caso Walter Salles essa sensibilidade vem de longe. Seu portfólio traz muitas histórias para comprovar e sua trajetória fala por si só. O diretor de um filme é esse maestro que afina tudo, aquele que traz a genialidade para o time. Salles faz isso e mais um pouco. O casting, as cenas, a praia de Copacabana, o acting das crianças. Há beleza até nas cenas mais horríveis, coisa de quem sabe o que está fazendo. Marcas precisam de líderes e Salles assumiu esse papel majestosamente.
A marca de um nome que provoca. Quem já criou nomes para marcas sabe o quão difícil é essa missão. Querer sintetizar toda a promessa de uma história a ser contada em apenas uma ou poucas palavras. Ainda estou aqui, como nome, é perfeito. Ele diz sem dizer, ele impacta e provoca, ele deixa a audiência completar com sua imaginação, mas dá pistas sugestivas. Se o nome de uma marca é apenas o início da conversa, o título do filme começa esse diálogo brilhantemente.
A marca que mexe com a gente. Marcas são sempre um veículo que promove algum tipo de movimento, nos faz sair de um lugar para outro. Marcas que são relevantes precisam emocionar e nos fazer transpirar. Marcas mornas não encantam, não nos levam a lugar nenhum. Bom, quanto a isso, mais um ponto para a marca Ainda estou aqui. É impossível ficar ileso com o filme. Seja qual for sua posição política, é um filme que nos revira do avesso.
Bom, se essas 5 razões ainda não foram suficientes para te convencer de que a marca Ainda estou aqui é um sucesso, ai vai mais uma. Como falamos na TroianoBranding, não há marca forte que resista a produto medíocre. O filme é genial e Ainda estou aqui merece isso que vem recebendo e muito mais. Vale o ingresso e principalmente vale o Oscar. Fica aqui a minha torcida, como fã de cinema, brasileira e amante das boas marcas.
Commentaires